Publicado por José Geraldo Magalhães em Geral - 26/10/2012

Ato em solidariedade aos Guarani-Kaiowá acontece em Fortaleza

Homens, mulheres e crianças da etnia Guarani-Kaiowá, em Mato Grosso do Sul, protestaram às ameaças da ordem de expulsão dos indígenas de suas terras emitida pelo Governo e  Justiça Federal. A manifestação foi por escrito. Na carta eles afirmam que estão dispostos à morte coletiva. Ao todo são 170 indígenas.

As manifestações se espalham por todo o país por parte de jornalistas, ativistas e outras pessoas que se sensibilizaram. Inicialmente pelas redes sociais e nas ruas de fortaleza neste sábado, 27, às 10h, na Praça dos Leões.

A historiadora e ativista Andrea Saraiva, da comissão organizadora da manifestação em Fortaleza , afirma que o movimento é necessário. "Isso é apenas uma preparação para o ato nacional unificado que deverá acontecer no dia 7 de novembro".

Ela considera que a situação enfrentada pelos Guarani-Kaiowá pode resultar em mais um capítulo da história de genocídio que ocorre com as nações indígenas desde que o Brasil começou a ser colonizado pelos portugueses.

Leia o trecho da Carta abaixo: 

"Pedimos ao Governo e à Justiça Federal para não decretar a ordem de despejo/expulsão, mas decretar nossa morte coletiva e enterrar nós todos aqui. Pedimos, de uma vez por todas, para decretar nossa extinção/dizimação total, além de enviar vários tratores para cavar um grande buraco para jogar e enterrar nossos corpos. Este é o nosso pedido aos juízes federais".

Andreia acrescenta que o ato de sábado é também uma forma de chamar a atenção da sociedade para as comunidades indígenas do Ceará, que enfrentam conflitos ligados às suas terras. Para tanto, foram convidados representantes dos povos Tapeba (Caucaia), Jenipapo-Kanindé (Aquiraz), Anecés (Pecém), Pitaguari (Pacatuba).

Leia na íntegra, a Carta da comunidade Guarani-Kaiowá de Pyelito Kue/Mbarakay-Iguatemi-MS para o Governo e Justiça do Brasil

"Nós (50 homens, 50 mulheres e 70 crianças) comunidades Guarani-Kaiowá originárias de tekoha Pyelito kue/Mbrakay, viemos através desta carta apresentar a nossa situação histórica e decisão definitiva diante de da ordem de despacho expressado pela Justiça Federal de Navirai-MS, conforme o processo nº 0000032-87.2012.4.03.6006, do dia 29 de setembro de 2012. Recebemos a informação de que nossa comunidade logo será atacada, violentada e expulsa da margem do rio pela própria Justiça Federal, de Navirai-MS.

Assim, fica evidente para nós, que a própria ação da Justiça Federal gera e aumenta as violências contra as nossas vidas, ignorando os nossos direitos de sobreviver à margem do rio Hovy e próximo de nosso território tradicional Pyelito Kue/Mbarakay. Entendemos claramente que esta decisão da Justiça Federal de Navirai-MS é parte da ação de genocídio e extermínio histórico ao povo indígena, nativo e autóctone do Mato Grosso do Sul, isto é, a própria ação da Justiça Federal está violentando e exterminado e as nossas vidas.

Queremos deixar evidente ao Governo e Justiça Federal que por fim, já perdemos a esperança de sobreviver dignamente e sem violência em nosso território antigo, não acreditamos mais na Justiça brasileira. A quem vamos denunciar as violências praticadas contra nossas vidas? Para qual Justiça do Brasil? Se a própria Justiça Federal está gerando e alimentando violências contra nós. Nós já avaliamos a nossa situação atual e concluímos que vamos morrer todos mesmo em pouco tempo, não temos e nem teremos perspectiva de vida digna e justa tanto aqui na margem do rio quanto longe daqui. Estamos aqui acampados a 50 metros do rio Hovy onde já ocorreram quatro mortes, sendo duas por meio de suicídio e duas em decorrência de espancamento e tortura de pistoleiros das fazendas.

Moramos na margem do rio Hovy há mais de um ano e estamos sem nenhuma assistência, isolados, cercado de pistoleiros e resistimos até hoje. Comemos comida uma vez por dia. Passamos tudo isso para recuperar o nosso território antigo Pyleito Kue/Mbarakay. De fato, sabemos muito bem que no centro desse nosso território antigo estão enterrados vários os nossos avôs, avós, bisavôs e bisavós, ali estão os cemitérios de todos nossos antepassados.

Cientes desse fato histórico, nós já vamos e queremos ser mortos e enterrados junto aos nossos antepassados aqui mesmo onde estamos hoje, por isso, pedimos ao Governo e Justiça Federal para não decretar a ordem de despejo/expulsão, mas solicitamos para decretar a nossa morte coletiva e para enterrar nós todos aqui.

Pedimos, de uma vez por todas, para decretar a nossa dizimação e extinção total, além de enviar vários tratores para cavar um grande buraco para jogar e enterrar os nossos corpos. Esse é nosso pedido aos juízes federais. Já aguardamos esta decisão da Justiça Federal. Decretem a nossa morte coletiva Guarani e Kaiowá de Pyelito Kue/Mbarakay e enterrem-nos aqui. Visto que decidimos integralmente a não sairmos daqui com vida e nem mortos.

Sabemos que não temos mais chance em sobreviver dignamente aqui em nosso território antigo, já sofremos muito e estamos todos massacrados e morrendo em ritmo acelerado. Sabemos que seremos expulsos daqui da margem do rio pela Justiça, porém não vamos sair da margem do rio. Como um povo nativo e indígena histórico, decidimos meramente em sermos mortos coletivamente aqui. Não temos outra opção esta é a nossa última decisão unânime diante do despacho da Justiça Federal de Navirai-MS".

Fique por dentro:

Temor de suicídio de índios em MS provoca comoção

Fonte: Assessoria de Comunicação / com informações da Agência Boa Notícia

 


Posts relacionados

Geral, por Sara de Paula

Como podemos ajudar o Equador?

Mais um terremoto atingiu o país na madrugada dessa quarta-feira. Saiba como enviar donativos para vítimas. 

Geral, por José Geraldo Magalhães

Declaração do Concílio Mundial Metodista sobre a Igreja em Charleston que sofreu atentado nos USA

Segundo investigação das autoridades, ficou claro que os membros da Igreja Metodista Episcopal Africana Emanuel estavam reunidos para o Estudo da Bíblia e oração quando um homem caucasiano por volta dos 20 e poucos anos abriu fogo.

Geral, por José Geraldo Magalhães

Geral, por José Geraldo Magalhães

Geral, por José Geraldo Magalhães

Geral, por José Geraldo Magalhães

Geral, por José Geraldo Magalhães