Publicado por José Geraldo Magalhães em Geral - 13/09/2013
Atini morre indígena
Morre de desidratação, dentro da área indígena, a pequena Tititu Suruwahá.
Muitos de vocês conheciam este rostinho alegre e sapeca e acompanhavam sua trajetória. Seus pais, Naru e Kusiumã, procuraram a equipe da JOCUM e pediram ajuda para salvar a vida de sua filha em 2005. A menina nasceu com uma má formação no órgão genital e por conta disso deveria ter sido abandonada para morrer na floresta logo depois do parto. Mas, contrariando a tradição, seus pais lutaram para que ela recebesse tratamento médico e passasse por uma cirurgia corretora do órgão genital.
Quem nos acompanha desde aquele tempo sabe da luta que este casal enfrentou. Conseguimos a autorização da FUNAI e levamos a família para São Paulo, onde ela foi acompanhada na USP e a cirurgia foi marcada. Devido a uma denúncia feita por antropólogos ultra-relativistas a FUNASA não concedeu a autorização para a cirurgia e os pais entraram em desespero. Tudo que eles queriam era a cirurgia e o tratamento médico de sua filha, e então retornariam para a aldeia. O assunto chegou ao conhecimento de uma jornalista da rede globo e o impasse foi parar no programa Fantástico. Em alto e bom som, em rede nacional, Naru fez um apelo desesperado:
"Se o médico operar minha filha, meu coração vai ser só sorriso.Se o médico não operar eu vou ter que dar veneno para ela. Meu coração vai ser só tristeza. Eu também acabaria tomando veneno, eu iria me matar."
Envergonhada e pressionada com a repercussão do fato, a FUNASA autorizou a cirurgia na mesma semana. O coração de Naru voltou a ser "só sorriso." Em poucos meses a família estava de volta na ára indígena onde Tititu foi recebida com alegria, e foi totalmente aceita e amada pelo seu povo. Tudo levava a crer que Tititu tinha vencido - ela estava crescendo feliz e se tornando uma menina esperta e levada.
Mas Naru e Kusiumã tinham consciência que a doença de Tititu era grave e que ela precisaria de acompanhamento médico pelo resto da vida. Eles aprenderam a administrar as doses diárias de hormônios e sempre colaboraram quando chegava a época de ir a Manaus para que Tititu fizesse os exames de sangue para o controle hormonal. A FUNASA assumiu o compromisso público de acompanhar a Tititu e garantir que os exames não se atrasassem e que o remédio não faltasse nunca. Vários relatórios médicos indicavam que sem o medicamento na dose certa, Tititu sofreria uma desidratação súbita e poderia vir a óbito em poucos dias.
A morte recente de Tititu por desidratação precisa ser explicada. A equipe da JOCUM não estava na aldeia por conta de uma determinação da FUNAI, que alega que os índios confiam mais nos missionários que nos funcionários, e que isso atrapalharia o trabalho das equipes de saúde. É verdade que os índios confiam mais nos missionários, que trabalham com eles desde 1985, falam a língua e respeitam a cultura do povo. Não é verdade que os missionários atrapalham o tratamento médico - pelo contrário, eles servem como intérpretes para as equipes da FUNASA e ajudam os funcionários a entender os melindres da cultura indígena para que os procedimentos médicos sejam compreendidos e aceitos pelo povo.
Sem a equipe de missionários, os suruwahá ficam a mercê de funcionários que não falam a língua nem entendem a cultura. Na verdade, o enfermeiro nem estava na aldeia quando Tititu passou mal, mas num posto de saúde afastado. Naru teve que caminhar horas na mata com Tititu doente nos braços. Ela já chegou no posto com desidratação avançada e não resisitu.
Nós da ATINI estamos de luto pela morte de Tititu. Várias providências já estão sendo tomadas, vamos exigir explicações. Pedimos que você também entre em contato com a direção da FUNAI e da FUNASA para cobrar explicações. Denuncie esse descaso - uma vida não tem preço! Se permanecermos em silêncio, é assim que as crianças indígenas continuarão sendo tratadas. Entre em contato com autoridades, com a imprensa, faça barulho. Escreva também para o Deputado Pompeo de Mattos, Presidente da Comissão de Direitos Humanos da Câmara dos Deputados, pedindo que a comissão acompanhe este caso. Os endereços e telefones estão no final desta carta. Que a morte de Tititu não seja em vão.
Amigos, queríamos também pedir sua ajuda para que possamos ajudar essas crianças de maneira mais efetiva.
Temos recebido muitos pedidos de ajuda de famílias indígenas com crianças em situação de rejeição e risco, como a Tititu. Algumas são crianças que nasceram com alguma deficiência, outras são famílias que tiveram gêmeos e optaram por sair de suas aldeias. Outras são mães solteiras que não querem matar seus bebês. Nosso desejo é empoderar essas famílias para que elas possam ter dignidade e cuidar de seus próprios filhos. Uma das maneiras de fazer isso é através do nosso programa de apadrinhamento. Precisamos atingir um certo número de padrinhos para que possamos cuidar das 40 crianças que já estamos atendendo, e só então poderemos incluir mais crianças. Precisamos de centenas de padrinhos. Temos 60 padrinhos, cada um contribui com 50 reais por mês. Ajude-nos a conseguir todos o padrinhos que precisamos. Seja você também UMA VOZ PELA VIDA.
Muito obrigado,
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