Publicado por José Geraldo Magalhães em Geral - 21/08/2012
[Artigo] Evangelho: fonte de iluminação da política
As relações do cristianismo com as culturas, ao longo do tempo, esclarecem, em grande parte, as dificuldades históricas das igrejas no trato de questões que envolvem o campo de política.
Essas relações têm como traço principal tensões inerentes aos inevitáveis encontros das comunidades de fé com o “mundo da vida”. Alheamento, acomodação ou mera utilização para fins institucionais têm sido posições dominantes nas interações de fiéis e de igrejas com a sociedade maior, particularmente no âmbito da política, a despeito de exceções.
Por outro lado, o Evangelho é fonte de iluminação e de dignificação da atividade política. Fé cristã e exercício responsável das ações cotidianas que compõem a vida política são inseparáveis.
A fé cristã, ancorada na mensagem bíblica e na centralidade do amor ao próximo, evidência maior da característica social do cristianismo, concretiza-se em ações pelo bem-estar e em favor de geração de oportunidades iguais para todas as pessoas.
Os ideais humanos de felicidade, segurança e de desenvolvimento pessoal, profissional e social acompanham o imaginário da humanidade. A mensagem bíblica da salvação, embora não se reduza aquelas aspirações legítimas, correlaciona-se às mesmas e confere-lhes sentido que as transcende.
Entretanto, embora muitos setores eclesiais possam concordar com a chamada dimensão política da atuação das igrejas, expressa, geralmente, em formas assistencialistas ou na indicação de candidatos a postos públicos para garantir interesses menores de igrejas, não tem havido, por parte das comunidades de fé, em especial aquelas de corte protestante, maior reflexão sobre a ineficácia de suas atuais práticas políticas.
Argumentamos que a correção dessa rota de ações sem resultados mais expressivos é possível na medida em que as igrejas, inspiradas em sua fé e esperança, se engajem, radical e intencionalmente, em ações políticas comunitárias, com potencial, inclusive, para a reinvenção do Estado, mediador principal das atividades políticas.
A aspiração humana por uma vida prazerosa, marcada pela alegria, temperada pela ternura, enriquecida pela hospitalidade, empoderada pela coragem não pode ser alcançada meramente por meio de intervenções focadas na individualidade da pessoa.
Requer, também, ações de cuidado que modifiquem o ambiente externo ao indivíduo; e que porfiem por princípios gerais que se transformem em políticas públicas e estruturas sociais para o atendimento de desejos humanos legítimos fundamentais.
Ações substantivas, transformadoras, demandam mais do que obras assistenciais. Requerem, com o envolvimento ativo da cidadania, a revisão das bases conceituais que sustentam as práticas políticas e o próprio Estado.
Defendemos que as igrejas cristãs são portadoras de uma mensagem potencialmente capaz de acrescentar uma contribuição significativa para a recriação da política. Não se trata de ignorar as contribuições dos cidadãos em geral, de outras religiões, nem das ciências e das lições da história.
O caminho novo e principal da ação política das igrejas na contemporaneidade, em particular nos municípios, estados e na esfera federal situa-se na participação, no diálogo e em atitudes que dêem novo sabor ao exercício da política. As semelhanças entre as funções da política e a missão da Igreja podem favorecer essa cooperação.
(Adaptado de SATHLER-ROSA, Ronaldo. O sagrado da política. São Paulo: Fonte Editorial, 2010).
Visite também o blog do professor Ronaldo Sathler Rosa: Cuidado Pastoral