Publicado por José Geraldo Magalhães em Geral - 01/08/2013

[Artigo] A Igreja na missão de Deus sobre forma e essência

A propósito de Encontros com Deus, Pequenos Grupos, células e grupos familiares

por Pr. José do Carmo

A Igreja do Senhor sempre passou por transformações ao longo de seu duplo milênio. Nasceu nas ruas através da pregação de Cristo, foi ungida com poder, quando os 120 aguardavam o cumprimento da promessa. Todos estavam reunidos em um mesmo lugar.  Obviamente que não estavam na casa de algum seguidor do Caminho, pois considerando que eles eram pobres, dificilmente algum deles possuía uma casa com espaço para reunir aproximadamente 120 pessoas na sala. Se é que algum abastado, fora o rei, naquela época possuía tal espaço. Há quem diga que eles, os 11, mais Matias que acabara de ter sido eleito como sucessor de Judas, estavam reunidos em um salão  anexo, ou no pátio do templo, onde de acordo com Lucas cap 24.53, eles frequentavam.

Após a descida do Espírito a Igreja ungida e cada vez mais crescente passa a se reunir nas casas, mas não deixam de ir ao templo, ou ao seu pátio, Atos 2.46, demonstra que os primeiros cristãos ainda mantinham certo vínculo com o templo judeu.

Nos períodos de grandes perseguições, principalmente cerca do ano 250, durante o reinado de Décio,  a Igreja passou a se reunir nas catacumbas, grandes galerias subterrâneas, que eram cemitérios, onde os judeus não entravam devido a observância de não tocar em nada impuro e os romanos não entravam por considerarem sagrado o local dos mortos.

O primeiro templo cristão só foi construído em 327 dC., após a conversão de Constantino, a pedido de sua mãe Helena. A partir de Constantino, o cristianismo se torna religião oficial do Império e os cristãos recebem tolerância e liberdade de culto, desde então templo e igreja erroneamente passaram a receber a mesma interpretação. Desde a construção do primeiro templo, a Igreja ficou confinada a eles, a ponto de muitos considerarem o templo/igreja um espaço permanentemente sagrado, e fora dele tudo o mais é profano.

Tal ideia [era e ainda é] tão forte que João Wesley considerava que algo relacionado ao culto, a exemplo do sermão, pregação  não poderia ser feito fora da igreja/templo. Em um primeiro momento, o patriarca do metodismo se posicionou contra a pregação ao ar livre. O que mudou sob influencia de Whitefield. Ao ser criticado por pregar ao ar livre, após ver os frutos das pregações de George Whitefield, e ter aderido à novidade, João Wesley respondeu: "uma dispensação do evangelho me foi confiada [1Cor 9.17], e ‘ai de mim se eu não pregar o evangelho’ [1Co 9.16], onde quer que esteja no mundo habitado”. Vemos ai já o germe da frase, "o mundo é minha paróquia.”

Hoje estamos vivendo a efervescência das células, pequenos grupos, discipulados que ocorrem nos lares. A igreja redescobre e valoriza as reuniões nos lares e em espaços abertos - At. 16.16, como meio de fortalecimento na fé e evangelismo, tal foi na Igreja Primitiva. Mais tarde, após a Reforma do Século XVI, o mesmo ocorreu com Philipp Jakob Spener e seu método de estudo da Bíblia em reuniões privadas em ecclesiolae ecclesia ( "igrejas dentro da Igreja"), movimento que mais tarde, através dos morávios influenciou João Wesley, o qual criou os pequenos grupos, chamados bands ou classes, que se reuniam nos lares visando a edificação da fé dos que nas pregações ao ar livre eram despertos.

Muitos se posicionam contra as células, alguns não são contra as células, mas sim aos denominados "Encontros com Deus”, outros são contra os dois... Embora, efetivamente, ainda não trabalhe com células, ou pequenos grupos, confesso que sou favorável aos dois, pois o fato de o primeiro templo ter surgido a partir de Constantino, o problema não está nele, não significa que a Igreja será restaurada a partir de um mero retorno as casas ou catacumbas.

O problema está no "templocentrismo”, achar que a Igreja só é Igreja e culto só é culto quando ocorre nas dependências dele. Isso chega a ser uma falta de compreensão ou negação da onipresença de Deus, Cristo e o Espírito Santo,  Trindade Santa a qual para se manifestar independe de estruturas criadas por homens, usando principalmente as estruturas criada, remida e selada por Ela, as pessoas. "Onde dois ou mais estiverem reunidos em meu nome, Eu estarei entre vós” (Mt 18,20). "Se alguém me ama, guardará a minha palavra, e o meu Pai o amará, e nós viremos e faremos nele a nossa morada” (Jo 14, 23) 16 Não sabeis vós que sois o templo de Deus e que o Espírito de Deus habita em vós?

Sobre os Encontros - Repreendidos os exageros, quanto a tão falada ferramenta denominada "Encontro com Deus", a história nos mostra que a tradição cristã sempre usou retiros, encontros, como meios de fortalecimento ou despertar da fé. Há encontros e encontros, criticar a todos sem ter feito ao menos um é demonstração de falta de sabedoria. Não vejo problema em alguém ir a determinado lugar com a expectativa de que Deus irá se manifestar, buscando em um ambiente de oração, adoração, pregação da Palavra a manifestação do Espírito.

O problema está em colocar o "Encontro com Deus” como conditio sine qua non para a experiência. Tal posição além de negar a atuação de Deus na história, (pois Ele já agia muito antes e de muitas formas, antes do aparecimento e uso do Encontro como ferramentas,) limita Deus, condiciona o agir do Espírito, o qual como o vento sopra onde quer levando a Igreja a proclamar a multiforme sabedoria de Deus.  O vento sopra onde quer; ouves-lhe o ruído, mas não sabes de onde vem, nem para onde vai. Assim acontece com aquele que nasceu do Espírito. João 3:8 - "Para que a multiforme sabedoria de Deus seja agora dada a conhecer por meio da igreja aos principados e potestades nos lugares celestiais" (Efésios 3:10).

O Encontro com Deus pode acontecer na casualidade humana, que ocorre dentro da Providência Divina, a exemplo do ocorrido com Moisés em Êxodo 3. Mas pode ocorrer também quando um grupo se reúne no mesmo lugar em busca do revestimento do Alto. A descida do Espírito em Atos 2 é uma prova disso, pois estavam reunidos todos em um mesmo lugar aguardando o cumprimento da promessa do Alto. Não devemos nos esquecer que muito mais do que uma experiência encontrista com Deus, o fundamental é caminhar na Presença Dele. Moisés só teve um encontro com Deus, o que seguiu foi uma caminhada dentro dos propósitos divinos em meio ao servir ao humano. ''Se não fores conosco, não nos faça subir daqui. ''- Ex: 33: 15.

Há aqueles que vivem o Encontro, mas não convivem com a Presença, assim se tornam dependentes de eventos e não caminhantes na Presença do Encontrado, que se deixa encontrar. Deus não só nos encontra, como também se deixa encontrar, assim como declara em Jeremias 29:13-14:  "E buscar-me-eis, e me achareis, quando me buscardes com todo o vosso coração. E serei achado de vós, diz o Senhor...,"

Penso que, toda mudança gera questionamentos, exageros, crises, medos, protestos, resistências...mas devemos nos lembrar sempre, que apesar de nós, e usando até mesmo de nossas falhas, Deus continuará sempre como Senhor da História, e o Espírito conduzirá a Igreja dentro da Missão de Dele.

Conclusão - em relação a pequenos grupos, encontros, retiros, reuniões intra ou extra-templo, ficamos muito tempo discutindo a forma e não buscamos a essência que consiste no cumprir o envio manifesto no Ide.  Ide por todo mundo, pregai o evangelho a toda criatura (Mc 16:15). De uma forma ou de outra, o importante é cumprimos as Escrituras, fazendo discípulos, cumprindo a comissão nós dada. Deus nos mostrará o caminho se formos fiéis ao mandato do Caminho, o qual nos enviou, dizendo: "É-me dado todo o poder no céu e na terra. Portanto ide, fazei discípulos de todas as nações, batizando-os em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo; Ensinando-os a guardar todas as coisas que eu vos tenho mandado; e eis que eu estou convosco todos os dias, até a consumação dos séculos. Amém."
Mateus 28:18-20

José do Carmo da Silva - pastor

Conheçam meu espaço pessoal de reflexão: http://pelocaminho.ucoz.com.br/ ainda em construção.


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