Publicado por José Geraldo Magalhães em Geral - 02/09/2010

Americanos que fizeram história em nosso país

Missões

Veja histórias de missionários que abriram caminho para o Metodismo no Brasil

 

No dia 02 de setembro a Igreja Metodista celebrou 80 anos como igreja brasileira autônima. Mas a proclamação de sua autonomia, no ano de 1930, não impediu que continuasse a receber missionários e missionárias dos Estados Unidos. Nos anos seguintes, muitas pessoas oriundas da Igreja Metodista Unida dos Estados Unidos – e também da Alemanha e da Igreja Unida do Canadá –  vieram para se unir em laços fraternos na missão com a Igreja Metodista no Brasil. Hoje, o número de missionários e missionárias estrangeiros diminuiu significativamente. A maioria dos que vivem aqui é de aposentados que escolheram o país como sua casa.

Atualmente é a Igreja Metodista brasileira que envia pessoas para fora... em número pequeno, é verdade, mas, ainda assim, invertendo a realidade do passado.

Mas, quais são as experiências e reflexões daqueles e daquelas que dedicaram suas vidas servindo aqui no Brasil? Compartilhamos aqui três histórias já publicadas pelo Expositor Cristão, a partir das quais nos lembramos que a Igreja não é feita de edificações ou números no rol de membros: a Igreja é constituída por pessoas, irmãs e irmãos amados por Deus, gente que merece consideração, respeito e carinho.

Poeira vermelha

Eu e minha esposa Cleo escolhemos ir ao Brasil quando voltamos aos Estados Unidos, em 1965, depois de servirmos na África. O Bispo Wilbur Smith nos convidou a “enfrentar as nuvens de pó para levar o Evangelho a uma área inteiramente nova”. Nossa nomeação (janeiro de 1967) era para viver em Cascavel, estabelecer uma Igreja Metodista lá e qualquer outro lugar dentro um raio de 150 km no parte oeste do estado do Paraná. Também incluiu a igreja em Laranjeiras do Sul, 150 km ao leste de Cascavel que não tinha um pastor em dez anos. Estávamos familiarizados com as “nuvens de pó” do Kansas e das viagens nas estradas em Angola e Zimbábue. Mas o pó vermelho do Paraná superou os demais!

Na África, nossa experiência era trabalhar na Missão Central, onde estávamos em contato quase diário com outros missionários. Assim, para nós foi um choque forte começar a trabalhar em Cascavel, 300 km distantes de qualquer missionário da Igreja Metodista, sem automóvel para viagens, nenhum dinheiro para comprar materiais para uma Escola Dominical ou outras necessidades por nosso trabalho.

O Bispo nos enviou dinheiro para comprar um terreno com uma casa velha em Cascavel que poderia ser usado como um lugar de reunião. Depois de vários meses, pudemos comprar uma Kombi para viajar. Desnecessário dizer que era um começo lento. Estávamos em Cascavel sete anos e ao final daquele tempo uma congregação metodista foi estabelecida em Cascavel com uma capela nova para adoração. A igreja em Laranjeiras estava crescendo e nós estávamos visitando 19 outros pontos de pregação em pequenas cidades e fazendas ao redor de Cascavel, alguns até 100 km de distância. Nossa segunda nomeação foi para a cidade de Umuarama, com experiências semelhantes, também servindo em vários outros pontos na área. Nós servimos lá oito anos.

Hoje, Cleo e eu estamos ambos com 88 anos de idade e completamos 65 anos de matrimônio em dezembro. Nosso filho Melvin e sua esposa Fran trabalham com a OMS em Londrina há 35 anos. Nossos outros três filhos e suas famílias vivem nos Estados da Flórida, Oregon e West Virginia.

         Rev. Raymond Noah e sua esposa Cleo

 

Coração em duas igrejas

Quando entrei com o pedido para ser missionário, a missão nos Estados Unidos desejava pastores casados com brasileiras que não fossem metodistas. Sem saber disso, me encaixei diretamente no perfil, já que minha primeira esposa era católica quando nos casamos. Cheguei ao Brasil em 1980 com a família, que incluía duas crianças. Viemos os dois como missionários. Nossa primeira nomeação, depois de 9 meses para eu aprender o português em Campinas, foi para Joinville, para começar a Igreja Metodista. Fui sozinho a Joinville fazer os primeiros contatos, arrumar uma casa e tudo mais. Chegando lá, eu achava que estava falando o português, mas as pessoas respondiam: “Spreken de Deutch?”, ou seja, “você fala alemão? Eu fiquei num pânico enorme. Me lembro que um dia, na praça do correio de Joinville, com a família ainda em Campinas, sentei e lamentei silenciosamente: Se morresse aquele dia, ninguém ia saber quem eu era! Estava completamente só. Apesar disso, as coisas foram se ajeitando. A maneira de ser da Igreja Metodista na Sexta Região foi bem diferente de minhas experiências anteriores e sentia saudades de um culto mais “litúrgico”. Mas aos poucos fui me adaptando. Em 1988, assumi outra nomeação que incluiu responsabilidades como professor no seminário regional. Desde então, tenho desenvolvido este ministério. Em 1990 adotamos uma filha brasileira, ela trouxe muita alegria. Agora, minhas três filhas moram nos Estados Unidos. Depois do divórcio, casei-me em 2000 com Maria, que embora não seja missionária “oficial”, compartilha todas as minhas paixões e interesses. Amo a Igreja Metodista, mas me preocupo com certas linhas de ação que acontecem em vários lugares que aparentemente contradizem a sua trajetória histórica. Às vezes sinto na pele que pertenço a duas igrejas, a Igreja Metodista Unida dos Estados Unidos e a Igreja Metodista do Brasil. E há momentos que concordar com a atuação de uma contradiz outra! Mas amo as duas e Brasil, que é minha segunda pátria.

 

Stephen Newnum

A autonomia da Igreja Metodista foi proclamada após uma intensa mobilização do chamado “Movimento Leigo” , organizado por volta de 1911, que tinha um slogan: “ninguém ocioso na Igreja”. Organizar a igreja no Brasil, tornando-a auto-sustentável sem perder a união com os metodistas de outras partes do mundo, era o objetivo do movimento. Veja, a seguir, algumas fotos deste período marcante para a história do metodismo brasileiro.

 

Para saber mais:

Revista Caminhos do Metodismo no Brasil: 75 anos de Autonomia, São Bernardo do Campo: SP, Editeo, 2005.

75 anos de Metodismo Autônomo no Brasil (documento no site www.metodistavilaisabel.org.br)

 


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