Publicado por José Geraldo Magalhães em Expositor Cristão, Social - 02/07/2014

Albergue metodista acolhe população em situação de rua

Texto: Marcelo Ramiro / 
Fotos: Fábio Mendes.
Projeto é desenvolvido pela Catedral Metodista de São Paulo em parceria com a Prefeitura e acolhe 150 homens por dia. 
José Bonaldo viveu a maior parte dos 59 anos nas ruas da capital de São Paulo. Teve problemas com a justiça, se envolveu com drogas, foi preso. “Cheguei a pior condição de uma pessoa”, lamenta. Ao procurar um albergue para passar a noite, conheceu a Comunidade Metodista do Povo de Rua. Foi quando sua vida começou a mudar.
 
Além de alimento e cama para repousar, José recebeu auxílio psicológico e espiritual. Foi orientado também a procurar a Previdência Social, pois em função de um atropelamento, não tinha condições de trabalhar. Após os exames devidos, foi aposentado por invalidez. Quem não tinha nada, ganhou esperança e uma ajuda de custo mensal de 724 reais. “Vou alugar uma casa e recomeçar minha vida”, planeja Bonaldo que reconhece: “jamais teria conseguido sem a ajuda desse projeto”.
 
Histórias como a de José Bonaldo motivam a equipe do Projeto Povo de Rua. Todos os dias, são acolhidos 150 homens em situações semelhantes. A maioria teve problemas no meio familiar. “Nosso trabalho aqui é ajudá-los a reconstruir os laços rompidos”, explica o psicólogo da casa Cláudio Silva. Cícero Antônio dos Santos, 40 anos, foi morar nas ruas depois que a mulher pediu o divórcio. “Caí no mundo da bebida e depois das drogas. Virei mendigo, fui morar debaixo de ponte”, conta. Ele passou por uma casa de reabilitação e busca forças para reescrever sua história. “Já passei por muitas coisas na rua e não é fácil recomeçar. Mas, sei que vou conseguir com a ajuda de Deus”.
 
Durante seis meses, Cícero poderá dormir no centro de acolhida metodista e contar com todo o apoio da equipe. Esse é o período máximo determinado pelo projeto para a permanência de cada pessoa. Para conseguir uma vaga fixa é preciso se cadastrar na Prefeitura de São Paulo e cumprir todas as regras.
 
São 100 vagas permanentes e 50 para pernoites, destinadas para aqueles que apenas passam a noite no local. É o caso de ­Flávio Kawade, de 37 anos. Por determinação da justiça, ele precisou sair de casa e não teve para onde ir. “Para mim estar aqui essa noite é um grande progresso”, diz aliviado.
 
ResultadosSituações de perda, luto, dor e sofrimento marcam a trajetória de quem vive nas ruas. Por isso, não é possível esperar resultados imediatos do trabalho desenvolvido. Mesmo assim, algumas respostas são animadoras. De acordo com o psicólogo Cláudio, de cada 10 casos de quebra de vínculos familiares, em média, quatro são resolvidos após o período de acolhimento e atendimento.
 
Dados do censo da população em situação de rua, realizado pela Prefeitura de São Paulo em 2011, mostram que 14.478 pessoas vivem nas ruas da capital paulista. Pouco mais da metade (7.713) recebe atendimento em centros de acolhida. “A gente sabe que o Estado não consegue dar conta desse problema sozinho. O terceiro setor, por meio das Organizações Não Governamentais (ONGs) têm uma importância muito grande quando promovem ajuda”, afirma o psicólogo.
 
O metodista Nelson Alves, de 68 anos, argumenta que a igreja deve se comprometer cada vez mais e promover todo tipo de auxílio. Ele é membro da Catedral Metodista de São Paulo e participa há quatro anos como voluntário do projeto Povo de Rua. “Tenho visto resultados maravilhosos. Não há palavras para descrever a satisfação de ajudar essas pessoas. Esta é a verdadeira missão da igreja”, enfatiza.
 
O porteiro André Luís do Nascimento, 34, agradece a iniciativa da igreja. “Este lugar não é somente um local para dormir e comer. Aqui nós podemos recomeçar”, diz. Ele perdeu o emprego recentemente e foi ajudado pela equipe do centro de acolhida da Igreja Metodista a conseguir uma nova colocação no mercado de trabalho.
 
Nova estruturaO projeto é desenvolvido pela Catedral da Igreja Metodista em São Paulo em parceria com a Prefeitura. Desde 1991, quando as atividades começaram, os atendimentos eram feitos no Viaduto Pedroso, no bairro da Liberdade. O trabalho ficou conhecido depois que uma reportagem veiculada no Jornal Nacional da Rede Globo em maio de 2009, mostrou alguns resultados do projeto para todo o Brasil. “Foi uma repercussão maravilhosa”, lembra o atual coordenador Everton de Oliveira.
 
Porém, o espaço já não comportava mais as demandas do trabalho. Em maio deste ano, o projeto ganhou uma nova estrutura. Um prédio de três andares foi alugado no bairro Cambuci com espaço para dormitórios, banheiros, refeitório e salas para atendimentos com psicólogo e assistente social.
 
“Hoje podemos atender essas pessoas com muito mais qualidade. Este é o nosso papel como igreja”, comemora o coordenador Everton. “Eu me pergunto: se Jesus estivesse entre nós, onde Ele estaria? Duvido muito que estaria nas igrejas, confortáveis. Ele caminhou em meio aos pecadores. Por isso, creio que Jesus estaria exatamente aqui, nos ajudando neste trabalho”. 
 

A Comunidade Metodista do Povo de Rua nasceu como um trabalho de faculdade que ganhou vida no encontro com a rua. Em 1990, o então acadêmico de teologia da Faculdade de Teologia da Igreja Metodista, Alcides Alexandre de Lima Barros, foi convidado pelo bispo Nelson Luiz Campos Leite para fazer um acompanhamento do povo de rua. A Igreja Metodista da Luz estava começando um trabalho em parceria com a Igreja Metodista Coreana Ebenezer, que quatro anos antes já servia café na Praça Fernando Costa, região central de São Paulo. Chegavam a juntar mais de 300 pessoas na praça. “Usávamos um megafone para falar com eles durante o café”, conta o pastor Alcides.

 

 

Em julho de 1991, a prefeitura de São Paulo, por meio da Secretaria Municipal de Ação Social, propôs umaparceria com a Igreja para melhorar o atendimento aos moradores de rua, durante os meses de inverno. A prefeitura oferecia o abrigo, localizado no Viaduto Pedroso, para o atendimento e criação de uma casa de convivência. 

Assim nasceu, oficialmente, a Comunidade Metodista do Povo de Rua, que começou a atender no dia 26 de junho de 1992, acolhendo os moradores de rua numa casa de convivência e, inicialmente, num abrigo emergencial. A partir de 1996, o abrigo tornou-se permanente. Hoje é o maior projeto metodista voltado para população de rua em todo o Brasil. 

 

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