Publicado por José Geraldo Magalhães em Geral - 04/05/2015

Água é vida! Reflexão sobre a importância da água e o comprometimento da Igreja com o meio ambiente

 
Ao abrirmos e ao fecharmos as páginas da Bíblia deparamos com a belíssima simbologia da água dentro do projeto totalizador para sobrevivência da estupenda criação de Deus: No princípio, criou Deus os céus e a terra. A terra, porém, estava sem forma e vazia; havia trevas sobre a face do abismo, e o Espírito de Deus pairava por sobre as águas. (Gn 1.1-2); O Espírito e a noiva dizem: Vem! Aquele que ouve, diga: Vem! Aquele que tem sede venha, e quem quiser receba de graça a água da vida. (Ap 22.17).
 
No coração das Escrituras (os Evangelhos) está sublinhado que Jesus Cristo é a Fonte da Água da Vida: No último dia, o grande dia da festa, levantou-se Jesus e exclamou: Se alguém tem sede, venha a mim e beba. Quem crer em mim, como diz a Escritura, do seu interior fluirão rios de água viva. (Jo 7.37-38). Nesta pista, podemos dizer que o altar de Deus é sua maravilhosa criação. Jesus Cristo é o centro da nova vida e da recriação da vida, à luz do projeto transformador do Reino de Deus. 
 
Nós, metodistas, ressaltamos a importância do meio ambiente. Por isso, em seu Plano Nacional Missionário (PVM)  - 2012-2016 - na ênfase 5 extraímos: implementar ações que envolvam a Igreja no cuidado e preservação do meio ambiente [...] Considerando-se as atuais condições de vida no planeta Terra – com a devastação das áreas verdes, a escassez de água, o acúmulo de lixo, etc. – a atuação missionária, em sua vertente social, também deve apoiar, incentivar e participar das iniciativas em defesa da preservação do meio ambiente. (PVM).  
 
Essa linha pastoral da Igreja abre um maravilhoso horizonte para a Igreja vivenciar um  discipulado corajoso, transformador e que possa assumir um compromisso com a dignidade da criação de Deus (Sl 24). No espaço da criação de Deus nossa responsabilidade é zelar, é cuidar e, consequentemente, dar sentido a nossa vocação de salvar vidas para Cristo, mas também promover ações que possam dar uma melhor qualidade de vida ecológica. Entre as muitas ações na pauta ecológica precisamos priorizar a água. 
 
Com absoluta certeza, podemos afirmar que água é vida, água é alimento e água é saúde. Dessa maneira, a água precisa ser um direito humano e social, ou seja, um bem público. Em outras palavras, as privatizações da água por grandes empresas internacionais constituem uma grande ameaça à vida considerando-se os interesses econômicos, ou seja, transformando a dádiva da criação da água em um bem comercial. Portanto, a água é uma extraordinária expressão da graça de Deus concedida a toda a criação. A vida abundante prometida por Jesus Cristo (Jo 10.10) passa pela benção da água. 
 
Objetivamente, sugiro que o tema da água possa ocupar as nossas atenções ao longo do ano de 2015. Os estudiosos estão apresentando dados concretos da profunda crise de abastecimento que estamos vivendo. Este ano vimos o caso da cidade de São Paulo. Os reservatórios do sistema Cantareira chegaram a um patamar indesejáveis, e agora precisamos de chuvas periódicas durante 5 anos. Um quadro assustador! 
 
Assim sendo, para ajudar as nossas igrejas, grupos societários, grupos de discipulados, ministérios nas diversas esferas da comunidade de fé, aconselho, respeitosamente, três ações:
a) Projetos que possam ressaltar a importância da presença de Cristo na vivência da comunidade. Ou seja, ações que sinalizem Jesus Cristo como a fonte da água da vida. Por exemplo, o diálogo de Jesus com a mulher samaritana (Jo 4.1-30) oferece lições extraordinárias para aquela época, bem como para nós hoje. Na verdade, o conteúdo desse diálogo aponta que a metáfora da água é universal. Todos nós precisamos de água para a nossa saúde pessoal e comunitária. Nesse encontro, Jesus mexeu e remexeu com a mulher samaritana (Jo 4.19-30) com seus conceitos e preconceitos. Precisamos de uma ação missionária que possa oferecer a água da vida: Jesus. Do mesmo modo, carecemos da água da graça de Deus para a nossa existência. Vivemos numa sociedade com muita expectativa de consumo e, consequentemente, sedenta de sensibilidade e amor.
 
b) Projetos que possam dinamizar o dia a dia da Educação Cristã. A Igreja Metodista compreende que a tarefa educativa é um processo permanente e transformador. A vida cristã precisa ser irrigada na fonte da água da vida que é a Palavra de Deus. A Escola Dominical, os grupos societários, os grupos de discipulados constituem excelentes espaços para o crescimento na maturidade cristã, à luz do conselho de Pedro: Antes, crescei na graça e no conhecimento de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo. (2Pe 3.18a). Esse crescimento passa por ações que possam ajudar a comunidade manter projetos relacionados à água no dia a dia da igreja. Por exemplo, revisão das instalações hidráulicas, reaproveitamento da água da chuva, construção de poços artesianos. Uma ação educativa que possa envolver todos os segmentos da comunidade de fé e serviço.  Do mesmo modo, programações litúrgicas poderão ser trabalhadas utilizando o simbolismo da água, como por exemplo, o batismo como símbolo de purificação, aliança e compromisso missionário.
 
c) Ações que possam contribuir com políticas públicas sobre a água. Não podemos abrir mão do nosso ensino sobre a responsabilidade cidadã diante do quadro angustiante do planeta terra. Como Igreja instamos, pessoal e comunitariamente, a participar da missão de Deus. Essa missão implica, como foi dito, num compromisso ecológico, objetivando defender os princípios inegociáveis da vida que, em última instância, passa pelo direito público da água.  Por isso, as políticas governamentais precisam evidenciar um marco legal sobre o uso da água. Nessa direção, precisamos fortalecer as políticas já existentes, bem como outras que possibilitem garantir água para todas as pessoas. 
 
Por fim, trago à memória a mensagem de esperança vivida por João na Ilha de Patmos: Vi novo céu e nova terra [...] Então, me mostrou o rio de água da vida, brilhante como cristal, que sai do trono de Deus e do Cordeiro. No meio da sua praça, de uma e outra margem do rio, está a árvore da vida, que produz doze frutos, dando o seu fruto de mês e mês, e as folhas da árvore são para a cura dos povos. (Ap 21.1a; 22.1-2). 
 
Que imagem maravilhosa! Uma mensagem de transformação, rios não poluídos, rio que oferece, gratuitamente, água cristalina para a convivência dos povos! Rio que alimenta a natureza! Árvores, praças... para comunhão e partilha! Por isso, João encerra a sua carta com um comovente apelo: Vem! Aquele que tem sede venha, e quem quiser receba de graça a água da vida. (Ap 22.17b).
 
 
Adriel de Souza Maia
Bispo Emérito da Igreja Metodista
Editor do no Cenáculo
 
*Artigo publicado orinalmente na Revista Voz Missionária, ed jan/fev 2015

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