Publicado por José Geraldo Magalhães em Geral - 13/09/2013
A mudança que precisamos
Digo, porém: andai no Espírito e jamais satisfareis à concupiscência da carne.
Porque a carne milita contra o Espírito, e o Espírito, contra a carne,
porque são opostos entre si;para que não façais o que, porventura,
seja do vosso querer (Gl 5.16-17).
A dificuldade dos gálatas: "Vós corríeis bem; quem vos impediu de continuardes a obedecer à verdade?" (Gl 5.7).
Como sabemos, a carta aos Gálatas é uma resposta de Paulo ao que se convencionou chamar, nos estudos do Novo Testamento, de "judaizantes". A expressão do verso acima demonstra o desapontamento de Paulo com aqueles que eram seus filhos na fé e que agora deixavam de "correr bem e de seguir a verdade". Ou, como noutro verso, afirma de forma mais enfática: "Ó gálatas insensatos! Quem vos fascinou a vós outros, ante cujos olhos foi Jesus Cristo exposto como crucificado?... Sois assim insensatos que, tendo começado no Espírito, estejais, agora, vos aperfeiçoando na carne?(Gl 3.1,3).
A igreja na Galácia era fruto do ministério de Paulo, e incluía Antioquia (da Psídia - Atos 13.14), Icônio e Listra. Já na primeira viagem, chegando a Antioquia, Paulo encontrou severa oposição, e ainda assim houve muitos judeus e gentios que receberam a Palavra e se converteram, nascendo, assim, uma forte comunidade (ver Atos 13.43-46). Por isso, Paulo podia mencionar tais irmãos e os judeus que se opunham a Paulo e ao evangelho pregado por ele. Estes exigiam que acima do tudo se tornassem como um judeu, circuncidassem, obedecessem aos ritos e jejuns, enfim se submetessem à lei como interpretada pelo Judaísmo rabínico.
Por tudo isso é que houve o Concílio de Jerusalém (cf. Atos 15), e o que foi determinado em carta pelos apóstolos às igrejas gentílicas, inclusive as da Galácia, foi: "Visto sabermos que alguns [que saíram] de entre nós, sem nenhuma autorização, vos têm perturbado com palavras, transtornando a vossa alma, pareceu-nos bem, chegados a pleno acordo, eleger alguns homens e enviá-los a vós outros com os nossos amados Barnabé e Paulo, homens que têm exposto a vida pelo nome de nosso Senhor Jesus Cristo. Enviamos, portanto, Judas e Silas, os quais pessoalmente vos dirão também estas coisas. Pois pareceu bem ao Espírito Santo e a nós não vos impor maior encargo além destas coisas essenciais: que vos abstenhais das coisas sacrificadas a ídolos, bem como do sangue, da carne de animais sufocados e das relações sexuais ilícitas; destas coisas fareis bem se vos guardardes. Saúde"(Atos 15.24-29.)Por tudo isso é que Paulo pôde se dirigir aos gálatas cerca de 4 a 5 anos após o Concílio de Jerusalém, mais ou menos ano 55 depois de Cristo, dizendo: "Admira-me que estejais passando tão depressa daquele que vos chamou na graça de Cristo para outro evangelho, o qual não é outro, senão que há alguns que vos perturbam e querem perverter o evangelho de Cristo.Mas, ainda que nós ou mesmo um anjo vindo do céu vos pregue evangelho que vá além do que vos temos pregado, seja anátema. Assim, como já dissemos, e agora repito, se alguém vos prega evangelho que vá além daquele que recebestes, seja anátema (Gl 1.6-9). Expressões fortes como perverter o evangelho de Cristo, "...mesmo que um anjo vos pregue outro evangelho seja anátema" (maldito). Por que tanta veemência? É o que veremos no próximo item.
O risco da heresia, ou desvio da fé genuína em Jesus Cristo
Praticamente, a maioria das heresias surgidas na história da Igreja, nasceram dentro da própria Igreja. São cristãos que, buscando novidade ou seguindo tendênos que buscando novidade, ou seguindo tends na hist "sto.,Rio de Janeiro, uma igreja para cada Bairro e cidade e um grupo de |Dcia do mundo em que vive a Igreja, começam a inventar novas práticas, e junto a um arrazoado bíblico-teológico que justifica. Não tenho tempo nem espaço para considerar diversos exemplos da história; deixo para os especialistas. Aqui me atenho a examinar, como biblista, à luz da Palavra, certas novidades, modismos mesmo, que tentam introduzir no meio evangélico e mesmo no nosso meio metodista. Vou tratar disso, caso a caso, com o propósito de ser didático, e não deixar dúvida ao que estou me referindo.
Usarei os textos de Gálatas, Coríntios e Hebreus, por serem a referência bíblica mais clara e objetiva para os temas a serem abordados, basicamente a introdução de práticas do Antigo Testamento, no culto cristão, e ou na vida diária dos crentes.
1) A entronização da arca com ritual de entrada no templo. Dependendo como se faz, ao invés de ser a entrada das Escrituras Sagradas, passa a ser a divinização e adoração da Bíblia, o que é uma contradição, pois ela mesma ensina: "Não farás para ti imagem de escultura, nem semelhança alguma do que há em cima nos céus, nem embaixo na terra, nem nas águas debaixo da terra. Não as adorarás, nem lhes darás culto; porque eu sou o SENHOR, teu Deus, Deus zeloso, que visito a iniquidade dos pais nos filhos até a terceira e quarta geração daqueles que me aborrecem." (Êx. 20. 4-5). Além disso, pode indicar a celebração da antiga aliança, a qual não nos incluía; nós vivemos a nova aliança: "O qual nos habilitou para sermos ministros de uma nova aliança, não da letra, mas do espírito; porque a letra mata, mas o espírito vivifica. ... Mas os sentidos deles se embotaram. Pois até ao dia de hoje, quando fazem a leitura da antiga aliança, o mesmo véu permanece, não lhes sendo revelado que, em Cristo, é removido" (2Co 3.6,14).
O que estão introduzindo é tornar os ritos exteriores em objeto e atos sagrados que nos darão virtudes espirituais, e nos aproximarão da glória de Deus, da bênção do Senhor.
Assim, com o esforço, e com as obras e ritos da lei judaica, ou, se quiserem, da carne, nos tornaríamos herdeiros das promessas de Deus.
2) Outra prática que se introduziu no meio evangélico é o resgate do sacerdócio arônico. Onde a primícia da oferta de sacrifício, "o peito da oferta movida, e a coxa da porção que foi movida - que é de Arão e seus filhos". Conforme Êx 29.27-28, este ato está sendo usado, para que a melhor parte, as primícias do ganho, fora o dízimo, seja entregue diretamente ao pastor; com isto, há pessoas que dão carro, e cheques vultosos aos pastores que ensinam tal princípio, sobre pretexto de Êx 29.27-28. Não vou discorrer sobre o verdadeiro sentido do texto. Vou afirmar o seguinte: O(A) pastor(a) na Igreja Cristã não é sucessor(a) do sacerdócio arônico, pelo contrário, temos um único sumo sacerdote: "Tendo, pois, a Jesus, o Filho de Deus, como grande sumo sacerdote que penetrou os céus, conservemos firmes a nossa confissão. Porque não temos sumo sacerdote que não possa compadecer-se das nossas fraquezas; antes, foi ele tentado em todas as coisas, à nossa semelhança, mas sem pecado (Hb 4.14-15). Ler também Hebreus 7.11-19.
Com que objetivo surgem tais desvios da genuína fé bíblica? Primeiro para que não percamos o foco, nossa santificação e o anúncio da graça de Deus, fazendo discípulos e discípulas de Cristo. São tantos os modismos e ritos que nos perdemos, deixando de fazer o prioritário. Tais modismos nos dividem: entregamos-nos a discussões absolutamente inúteis, com isso quebramos a unidade do Espírito, e damos lugar à carne.
3) Qual o ensino de Paulo sobre esta relação lei/fé? Ou ainda carne e Espírito?
"Aquele, pois, que vos concede o Espírito e que opera milagres entre vós, porventura, o faz pelas obras da lei ou pela pregação da fé? (Gl 3.5.)
Antes deste texto, ele já havia sido bastante categórico quanto ao restabelecimento da lei e seus ritos: "Sabendo, contudo, que o homem não é justificado por obras da lei, e sim mediante a fé em Cristo Jesus, também temos crido em Cristo Jesus, para que fôssemos justificados pela fé em Cristo e não por obras da lei, pois, por obras da lei, ninguém será justificado" (Gl 2.16). Diante disso, como pode alguém estabelecer que Deus lhe revelou ser necessário fazer voto de nazireu, raspar a cabeça, usar vestes de saco, e várias outras práticas? Pois, tal propósito tomou formas diferentes no decorrer dos anos na tradição judaica. E não foram práticas ensinadas por Jesus, mas condenadas (Lc 11.37-44).
Além de Gálatas, Paulo nos dá lições preciosas sobre a nossa incapacidade de ser fiel à lei de Deus, de produzir por nós mesmos atos que honrem e agradem a Deus: "Porque eu sei que em mim, isto é, na minha carne, não habita bem nenhum, pois o querer o bem está em mim; não, porém, o efetuá-lo." (Rm 7.18). "Porquanto o que fora impossível à lei, no que estava enferma pela carne, isso fez Deus, enviando o seu próprio Filho em semelhança de carne pecaminosa e no tocante ao pecado; e, com efeito, condenou Deus, na carne, o pecado, a fim de que o preceito da lei se cumprisse em nós, que não andamos segundo a carne, mas segundo o Espírito." (Rm 8.3-4).
Assusta-me a quantidade de fórmulas propostas por pregadores evangélicos diversos, para que os crentes se tornem prósperos; alguns falam de riquezas, coisa não aconselhada no evangelho(Lc 18.24-25), e orientada por Paulo: "Ora, os que querem ficar ricos caem em tentação, e cilada, e em muitas concupiscências insensatas e perniciosas, as quais afogam os homens na ruína e perdição. Porque o amor do dinheiro é raiz de todos os males; e alguns, nessa cobiça, se desviaram da fé e a si mesmos se atormentaram com muitas dores" (1 Tm 6. 9-10).
Enfim, há toda a sorte de modismos que contaminam e desviam o povo do puro e simples evangelho de Jesus Cristo. Precisamos de mais oração, mais submissão à Palavra de Deus, e não de ritos e práticas exteriores; afinal, segundo o Novo Testamento, a circuncisão verdadeira é a que é do coração: "Porém, judeu é aquele que o é interiormente e circuncisão, a que é do coração, no espírito, não segundo a letra, e cujo louvor não procede dos homens, mas de Deus. (Rm 2.29).
Que Deus nos abençoe e vivamos o evangelho do arrependimento e da nova vida em Cristo.
Bispo Paulo Lockmann