Publicado por José Geraldo Magalhães em Geral - 27/09/2010
A educação no debate eleitoral
Por Cristiane Gandolfi*
Professora diz que debate sobre progressão continuada está limitado
O debate sobre progressão continuada ou aprovação automática tem sido o epicentro da discussão sobre educação nessas eleições. De um lado, vê-se a crítica contundente à avaliação sistêmica operada com a prática de aprovação automática no Estado de São Paulo; de outro, o discurso pouco se altera, uma vez que está circunscrito à mudança de progressão continuada para progressão avaliada. Em linhas gerais a discussão está centrada nas práticas de avaliação e não na estrutura e funcionamento de uma escola sociocultural destinada à universalização da educação básica em nosso país tendo a qualidade como pressuposto universal.
Quando falamos em progressão continuada, imediatamente lembramos do educador Paulo Freire e de seu compromisso com as camadas populares. Sua experiência como secretário de Educação na Prefeitura de São Paulo, no governo de Luiza Erundina, foi primordial para a cultura da progressão continuada; pena o governo seguinte não ter dado continuidade ao seu projeto de escola e de cultura educacional que deveriam norteá-la. Falar em progressão continuada é lutar contra o analfabetismo no País e seus índices de evasão e repetência, defendê-la significa atualizar no século 21 o princípio de que educação é direito e não privilégio.
O educador Vitor H. Paro chama atenção para o fato de, com a progressão continuada, os sistemas de ensino terem arrumado para si um grande problema: a criança e o adolescente anteriormente excluídos, agora estão precariamente incluídos na escola. A cidadania negada pela sociedade de classe é pasteurizada por dentro do sistema de ensino, uma vez que a expansão das políticas educacionais que primam pelo direito à educação não garantem a universalização de uma educação de qualidade para todos: principalmente quando a sala de aula é o ponto de encontro das diferenças de classe, gênero e etnia.
Nos debates eleitorais, os candidatos ao governos federal e estadual, à Câmara dos Deputados, à Assembléia Legislativa e ao Senado deveriam demonstrar à população qual o seu projeto de escola pública para todos? Como é a arquitetura do prédio e organização do tempo escolar? Que políticas de valorização aos profissionais de educação são anunciadas? Que projetos existem no interior da escola para suprir as carências de uma população tida como "sem cidadania" que, no entanto, está dentro da escola, ao menos por 200 dias, ao longo de cada ano?
Nas periferias, é comum encontrar a escola como o único espaço de capital cultural da comunidade. O pouco que ela produz já é muito. Culturalmente ela está sozinha na localidade. Quantas praças, anfiteatros, museus, parques, ongs e bibliotecas existem nas periferias? Os candidatos deveriam responder à população: como pretendem superar a lei 5692/71 da ditadura militar? E, agora, com a democracia (lei 9394/96), qual é o projeto de escola pública, eqüitativa e de qualidade, para todos e todas, que desenharão em suas legislaturas e mandatos executivos?
*Cristiane Gandolfi
Professora na Universidade Metodista de São Paulo