Publicado por José Geraldo Magalhães em Geral - 20/09/2013

A cruz

 

   

"... a palavra da cruz é loucura para os que se perdem, mas para nós, que somos salvos, poder de Deus." 1 Co 1.18ss

Nós, cristãos, falamos freqüentemente sobre a cruz e o suplício de nela morrer, sobretudo, por ter sido o instrumento da morte de Jesus.

A MORTE DE CRUZ

No período neotestamentário morrer na cruz, no fogo, e entregue às feras, era provar de uma das três supremas penas romanas.

O que as tornava supremas não eram, tão somente, a crueldade desumana ou a desonra pública, mas, também, o fato de não poder restar nada para ser enterrado do sentenciado, a não ser a própria cruz, segundo afirmam pesquisadores. É fácil de se entender por que não se sobraria nada de um cadáver consumido pelo fogo ou devorado por leões. No caso da morte na cruz - a crucificação, para espanto de muitos hoje, isso ocorria porque o corpo ficava exposto na cruz aos abutres e aos cães comedores de carniça.

Por tratar-se de sentença suprema eram comuns crueldades que precediam o ato da crucificação. Tal como açoitar o réu e depois de lacerado o corpo, obrigá-lo a carregar a cruz, o patibulum, a viga transversal.

A crucificação era o ato pelo qual, um réu condenado à morte era fixado à cruz, atando-lhe as mãos e os pés ou cravando-os com os pregos para dar-lhe morte mais cruel.

O sentenciado atado à cruz comumente morria de maneira mais lenta, podendo sobrevir o óbito até três dias após a crucificação. O que ocorria por asfixia, por esgotamento nervoso, por fome ou por sede. Em alguns casos este tipo de obituário acontecia até com os que eram pregados, e quebrar as pernas do réu era um recurso utilizado na necessidade de abreviar a morte.

As cruzes utilizadas eram de vários tipos. No caso de Jesus talvez tenha sido a do tipo +, que mais facilmente se prestava a receber a inscrição que Pilatos mandou inscrever sobre a cabeça de Jesus, Mt 27.37; Mc 15.26, Lc 23.38; Jo 19.19. A inscrição trazia o motivo da condenação do réu, podendo ser pendurada em seu pescoço ou afixada em cima de sua cabeça.

Embora existisse a orientação por parte do Estado de extinguir o cadáver e a cruz, para evitar que possivelmente o túmulo se tornasse local de culto e resistência, e a cruz instrumento de veneração ou contaminação. Pelo menos em país judaico a família e/ou amigos contavam com a possibilidade de obter o corpo do condenado após a morte.

Não se sabe precisamente, mas provavelmente os romanos receberam dos cartagineses a prática de crucificação que foi abolida, séculos depois, por Constantino em todo o império romano.

Quando em vigor, os romanos eram isentos desta pena em virtude de leis especiais, sendo infligida somente aos escravos ou aos libertos que cometiam crimes hediondos.

A MENSAGEM DA CRUZ

Em um primeiro momento, para os discípulos a morte de Jesus na cruz foi um choque violento, um escândalo, a prova cabal de que Jesus não era o redentor esperado (Lc. 24.21). E a reação, como vimos acima, dificilmente seria outra diante de tamanha crueldade, infâmia e vergonha que a crucificação expunha o réu.

No Novo Testamento as palavras cruz e crucificar só aparecem nos evangelhos, nas cartas paulinas, em At. 2.36; 4.10; Hb. 6.6; 12.2 e Ap. 11.8. Salta-nos aos olhos o lugar tão proeminente que a cruz ocupa no pensamento do apóstolo Paulo. Sumariamente podemos afirmar que a cruz de Jesus, também, o chocou violentamente antes de reconhecê-la como a cruz de Cristo.

Como acreditar que Jesus de Nazaré fosse o Messias de Israel, entregue pelo Sinédrio a Pôncio Pilatos, crucificado e ferido pela maldição divina (Gl. 3.16)? Entretanto, a revelação fulminante do caminho de Damasco (Gl. 1.16) foi suficiente para convencê-lo. Daí por diante Paulo tem a certeza de que Jesus é o Cristo, não a despeito, mas por causa de sua morte

na cruz. Esta conversão total de juízo de Paulo sobre o crucificado norteia todas suas reflexões.

"Pregamos um Cristo crucificado, escândalo para os judeus e loucura para os gentios; mas para os que foram chamados, tantos judeus como gregos, pregamos a Cristo, poder de Deus e sabedoria de Deus" (1 Co. 1.23-24). Com estas palavras Paulo exprime a espontânea reação de todo homem e mulher posto na presença da cruz reconciliadora e redentora.

Paulo reconhece a cruz como obra reconciliadora ao considerar-nos outrora inimigos de Cristo, quais potestades subjugadas, agora conquistados pela cruz vitoriosa, que se renderam alegremente, em obediência, diante do verdadeiro Rei. Para o apóstolo a morte de Cristo é manifestação suprema do amor de Deus: "Deus prova o seu amor para conosco, pelo fato de ter Cristo morrido por nós, sendo nós ainda pecadores" (Rm 5.8). O Rei, que poderia aniquilar os inimigos, não o faz, mas reconcilia-nos com Deus mediante a morte do seu Filho.

Desta forma evidencia-seo fato de que é a morte de Cristo que efetua a reconciliação (Rm 5.6-10; Ef. 2.13; Cl. 1.20). Que essa morte de cruz é ato de Deus em benefício da criação e jamais ato humano de propiciação oferecido a Deus. O Supremo estava em Cristo, reconciliando consigo o mundo, não imputando à humanidade as suas transgressões (2 Co. 5.18-19). Pois a rebelada raça humana era incapaz de fazer qualquer coisa para estabelecer paz com Deus, ou qualquer relação adequada.

Inerente a morte de Cristo na cruz está a obra redentora da humanidade. Que significa "resgate", "aquisição", "compra", libertação, efetuada por Cristo no Calvário (Rm. 3.24; Cl. 1.14). A palavra original no grego traduzida por redenção é lytrón que significa originalmente devolver escravos (se tivesse sido aprisionados na guerra ou por bandos de salteadores) mediante o pagamento de um resgate, ou alforriá-los, ou libertá-los.

Desta forma, Paulo sintetiza a Tito a obra redentora do Cristo: Jesus é Salvador "o qual a si mesmo se deu por nós, a fim de remir-nos de toda iniqüidade e purificar, para si mesmo, um povo exclusivamente seu, zeloso de boas obra" (Tt. 2.14) Entrementes, Deus fez seu filho pecado por nós, a fim de que nele nós nos tornássemos justiça de Deus (2 Co. 5.21).

Foi Deus quem quis que seu Filho, por solidariedade a humanidade, fosse submetido aos efeitos maléficos do poder mortífero que é o pecado; constituindo o maior ato de amor e de obediência que se possa conhecer. Assim a obra nefasta do pecado está reparada, restaurada, resgatada, e a humanidade de novo diante da vida divina pelo sacrifício vicário de Jesus na cruz.

Destarte, não é pela vontade do Pai, mas pela rebelião humana, que perecerão aqueles que não se reconciliarem. Entretanto, este é o preço frustrante que Deus está disposto a pagar para manter a liberdade humana.

A cruz que era a aparente derrota, a morte de Cristo, era na realidade a vitória sobre a morte e sobre Satanás, o autor da morte (Jo. 12.31; Hb 2.14), era a fonte de toda suficiência, de amor prático. E, se é verdade (o que de fato é) que se deve temer a apostasia, que levaria a "crucificar de novo por própria conta o Filho de Deus" (Hb. 6.6),devemos exclamar com Paulo: "De minha parte que eu jamais me glorie a não ser na cruz de do nosso Senhor Jesus Cristo que fez do mundo um crucificado para mim, e de mim um crucificado para o mundo" (Gl. 6.14)

 

Bibliografia

ALLMEN, J. J. von. Vocabulário Bíblico. São Paulo: ASTE, 2001. pp. 103-107.

DAVIS, John D. Dicionário da Bíblia. Rio de Janeiro: Casa Publicadora Batista, 1973. pp. 141-142.

LÉON-DUFOUR, Xavier. Vocabulário de Teologia Bíblica. Petrópolis: Editora Vozes, 1999. pp. 196-198.

RICHARDSON, Alan. Introdução a teologia do NovoTestamento. São Paulo: ASTE, 1966. pp. 215-222.

 

Rev. Robson Vargas de Melo

Igreja Metodista em Cangulo


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