Publicado por José Geraldo Magalhães em Geral - 13/09/2013

Reflexão

Caminhando contra o vento, com Graça!

Somos uma igreja que caminha  e que milita na perspectiva do Hino 202. De fato a Graça de Deus nos alimenta e nos fortalece numa  caminhada na contra-mão da sociedade atual. Os bispos e bispa da nossa igreja  concordam, que a Graça nos faz confrontar o espírito do nosso tempo, onde tudo tem  preço. E afirmam ainda que a Graça nos inspira a subverter a ordem vigente. Sem dúvida, fomos chamados (as) bem antes do último concílio geral, pelo próprio Senhor Jesus, para salgarmos e iluminarmos este mundo. A isso, temos chamado de; "Espalhar a santidade bíblica em toda a terra"! O Jesus da Palestina é o nosso "Caminho". Pelo menos se espera que caminhemos como ele andou. Nunca ninguém subverteu tanto a ordem vigente como Ele. Nunca ninguém confrontou tão efetivamente o espírito de seu tempo como Ele. Durante a sua caminhada missionária, enfrentou a pressão de vários ventos doutrinários de inúmeros movimentos religiosos, sem nunca negociar ou perder a graça e a sua própria identidade, como se vê na atualidade.

É possível visualizar no cenário metodista nacional alguns que optaram em ser "birutas" (entenda-se instrumento  utilizado pela navegação aérea para descobrir as várias direções do vento), outros tantos insistem em caminhar contra o vento e com muitos documentos! Afinal, qual a melhor opção? Como uma igreja resgatada, deve caminhar? Inicialmente, é importante entender que a caminhada missionária da Igreja  neste mundo, não deve ser um caminhar "sensual" nas passarelas do mercado religioso, exibindo as formas sinuosoas de sua estrutura administrativa e arquitetônica. Uma igreja resgatada pela graça, não caminha reproduzindo os "requebros das vacas de Basã"(ver Amós 4) e tampouco se torna escrava da ditadura de uma beleza filosófico-positivista sacrificando os valores do evangelho ao deus "Mamom". Homens e mulheres wesleyanos conscientes sabem que o mais importante não está nas formas e sim, no conteúdo. Ainda que concordemos que explorar as formas faz parte do processo. Mas, até que preço? Somos Igreja de Jesus que deve caminhar cheia da Graça de  Deus e que deve  ter clareza de sua  identidade. É certo que não caminhamos como igreja uniformizada, mas unida. A propósito, a poetisa Simei Monteiro nos lembra que "se caminhar é preciso, caminharemos unidos(as)"!  Afinal, como Deus vê a nossa caminhada?

           

"Olha que coisa mais linda! Mas, é cheia de Graça?"

 

Contrariando os compositores Antonio Carlos Jobim e Vinícius de Moraes, autores da clássica "garota de Ipanema", reafirmamos aqui que a estética não é fundamental. Como já dizia o Espírito Santo ao Juiz Samuel; "...o homem vê a aparência mas, Deus vê o coração"(ver ISam.16.7). Talvez, se a vista do ponto onde nossos poetas estavam, fosse as favelas cariocas cheias de homens, mulheres, crianças, idosos, pessoas portadoras de necessidades especiais, gente linda e sofrida que dificilmente passam o fim de semana em Ipanema! Trabalhadores (as) cansados (as) que não perdem a esperança nunca e que apesar de tanta droga e dengue, ainda torcem pro Flamengo às lágrimas e continuam cantando as músicas de Jorge Bem Jor. Sim, se nossos compositores estivessem olhando para esta realidade talvez compusessem; "Os pobres em Ipanema". Desse ponto de vista seria bem diferente. É claro que a noção do belo na canção "Garota de Ipanema", se limita ao aspecto sensual da mulher carioca e à paisagem bucólica que mistura o mar com o céu e o sol com suor. A noção de Graça que a música passa também não é muito teológica, mas tenta falar da espontaneidade com que caminha a tal garota. Diante da caminhada da Igreja Metodista Brasileira em sua missão, será que Deus cantaria... "Olha, que coisa mais linda e cheia de graça?" Vamos comparar agora o conteúdo da missão da Igreja de Jesus, com as  formas  eclesiásticas de nossas igrejas locais? Pense comigo: Quantos ministérios existem em sua igreja local? Se gasta muito tempo em sua igreja para definir as prioridades do planejamento? Todas as prioridades escritas no Plano de Ação de sua igreja são necessidades reais? A propósito, o ministério de Ação social existe? E o que basicamente ele está fazendo em prol dos pobres da comunidade? Sua igreja tem algum trabalho com crianças ou mulheres carentes? Há muitas mulheres líderes em sua igreja? Onde estão os(as) negros(as) em sua comunidade? O que acontece quando algum visitante participa das atividades? Mas, e o "momento de louvor" é bonito? O templo é lindo? A arrecadação financeira é expressiva? Estamos ganhando muitas "almas" ou discipulando pessoas a viverem como Jesus viveu? Ser comunidade missionária a serviço do povo é sinalizar a Graça; é deixar esse conteúdo se derramar na família, no bairro, na escola, na  fábrica, no Senado, na Coream, na Clam e em nossos concílios.

Falar da Igreja que caminha é assunto muito sério. Pois, trata-se de  identificar entre os "balanceios" da estrutura eclesiástica e as dinâmicas do Espírito Gracioso de Deus, o conteúdo essencial. Avaliar a caminhada da Igreja Metodista em terras brasileiras é buscar reescrever ou quiçá, escrever o metodismo brasileiro, a partir da peregrinação de Jesus Cristo. Como ele caminhava? O que fazia? O que ganhava relevância para ele? As formas ou o conteúdo? A arquitetura dos templos e sinagogas, os calendários festivos, a quantidade de peregrinos judeus em Jerusalém ou a possibilidade de um assento no Sinédrio? Jesus continua sendo o modelo maior da Igreja Metodista. Basicamente, a herança wesleyana é conseqüência da grande comissão de Jesus. Wesley leu a  Bíblia cheio do Espírito Santo, abriu o coração para a humanidade e  fez o seu "dever de casa" . Numa sociedade cada vez mais intolerante e hipocritamente religiosa, qual deve ser a visão predominante da Igreja enquanto  caminha? É claro que é a visão Da Graça. Esse é o seu conteúdo. Portanto, precisamos vencer a síndrome da "garota de Ipanema".

           

Wesley, nos  deu régua e compasso para uma espiritualidade equilibrada!

Como já dissemos, Jesus continua sendo o nosso modelo. Já está resolvido que  a salvação é um dom de Deus, mediante a Fé, conforme Ef.2.8-10. Segundo Theodore Runyon, a Graça é ao mesmo tempo uma "experiência" e uma "dádiva", o "perdão". Lembra-nos ainda que: "O fato derradeiro, mais profundo, e ao mesmo tempo o mais simples, é que não se pode ter Deus, sem Deus". E o nome para essa iniciativa que vem do outro lado chama-se, Graça!

As 5 ênfases wesleyanas nos dar ferramentas preciosas para redesenharmos ou desenharmos a nossa história metodista brasileira. De certa forma, ele nos deu "régua e compasso"; veja você mesmo leitor (a); tome uma régua, um compasso e um papel em branco. Trace um quadrado. Em cada lado escreva as seguintes ênfases; Tradição, Experiência, Razão e Criação. No centro do quadrilátero escreva; Escrituras. Em seguida, faça pequenos círculos, mantendo no centro destes cada ênfase wesleyana. Agora pinte cada círculo com as cores litúrgicas; parabéns!  Agora escreva abaixo o que sua obra de arte sugere e compartilhe com sua família. Somos uma igreja que vive a multiforme graça de Deus. O "balance" ou equilíbrio é nossa marca maior. Traduzindo isso, significa VIVER A GRAÇA  em meio à adversidade. Onde o racionalismo e o tradicionalismo ameaçarem a ternura da fé, a experiência revitalizadora do Espírito Santo nos devolve a sanidade, nos mantendo na boa tradição. Por outro lado, onde o "entusiasmo" ameaçar a autoridade das Escrituras, expondo a razão ao ridículo e pondo em risco a nossa identidade, O Espírito gracioso de Deus nos devolve o senso de ordem e decência enquanto caminhamos. Dessa forma, caminharemos com beleza e graça em meio a tanta intolerância  e politicagens.  Floresceremos como a Palmeira em meio a tantos sinais de desgraças e por fim, anunciaremos a  paz  e  a liberdade aos cativos, como dispenseiros(as) da multiforme graça de Deus e somente assim seremos "Semelhantes a Jesus" como bem canta Asaph Borba. 

 

José Roberto Alves Loiola

Pastor da Igreja Metodista em Taguatinga Central-DF e Secretário do Ministério Regional de Combate ao Racismo da 5a Região eclesiástica.


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