Publicado por Sara de Paula em Geral - 03/08/2016

Deus Pai, modelo de paternidade

 

Estamos nos aproximando do Dia dos Pais, que esse ano será celebrado no dia 14 de agosto. O Departamento Nacional de Escola Dominical já disponibilizou a liturgia para comemorar a data (clique aqui para fazer download). A Igreja Metodista no Brasil compartilha também o texto do Bispo Adriel de Souza Maia, publicado originalmente na edição 148 da Revista Lar Cristão, que entrou em circulação em janeiro de 2016. O editor nacional do devocionário no Cenáculo, destaca Deus como um pai cuidador, gerador de vida e amoroso, enquanto muitas pessoas já tiveram experiências com um pai autoritário ou cobrador. 

 

O material também pode servir como apoio para estudos específicos bíblicos e discussões em relação a paternidade, e responsabilidades do pai cristão. 

 

Leia o texto na íntegra abaixo, e compartilhe com as famílias da sua igreja para reflexão. 

 


 

Deus Pai, modelo de paternidade
Identificando Deus como Pai, gerador da vida, que ama / cuida individualmente


Fui convidado para fazer uma palestra para a juventude abordando o tema Atributos de Deus.  Decidi começá-la sugerindo uma dinâmica motivacional à luz do tema. Pedi a cada participante colocar em uma folha de papel, por meio de um desenho, diagrama ou escrito, seu conceito sobre Deus. O resultado da dinâmica foi surpreendente; muitas experiências foram sublinhadas. No entanto os que mais me chamaram a atenção foram as experiências negativas sobre Deus, a saber: um Deus distante, vingativo, inexplicável, fiscalizador, ditador etc. Nessa estimulação, algumas pessoas apontaram um conceito de Deus acolhedor, protetor, amoroso e misericordioso.

 

Com certeza, as pessoas que manifestaram suas experiências registrando um Deus Pai cobrador, autoritário etc. ilustraram bem seu conceito sobre relacionamento paterno – nesse caso, construindo barreiras físicas, emocionais, relacionais e espirituais.

 

Sou fruto de uma geração em que o pai era considerado o provedor e – sempre – tinha a última palavra nas decisões a serem tomadas. A ponte para se chegar ao pai para algum pedido era a mãe, como, por exemplo, conseguir algum favor, um passeio, um brinquedo, uma roupa.

 

Na trajetória do relacionamento com meu pai, tive duas experiências marcantes. A primeira, já sublinhada, um pai preocupado com a educação do filhos, mas com dificuldades para o diálogo e, às vezes, violento no trato com os filhos. A segunda, transformadora, ocorreu após uma doença que o atingiu e quase o levou à morte: a malária. Durante seu tratamento, pude me aproximar de meu pai, que requeria cuidados mínimos: tomar banho, ir ao banheiro, fazer a barba, alimentar-se etc. Nesse novo relacionamento, aconteceu uma verdadeira conversão: anteriormente, um pai distante, intolerante; agora, com a experiência da reaproximação, um pai amoroso, acolhedor, dependente e cheio da virtude do evangelho de Jesus Cristo. Aprendi uma grande lição: crescemos quando somos frágeis. À luz  do ensino paulino: “A minha graça de basta, porque o poder se aperfeiçoa na fraqueza. De boa vontade, pois, mais me gloriarei nas fraquezas, para que sobre mim repouse o poder de Cristo” (2Co 12.9).

 

Acredito que esse testemunho poderá nos ajudar no entendimento e na compressão da pessoa de Deus Pai. Primeiramente, uma análise da Escritura poderá nos conduzir ao conceito de um pai em uma estrutura social patriarcal e poligâmica que não serve como parâmetro para orientar nosso tempo. No entanto somos instados a uma releitura da palavra de Deus tendo como fundamento sua graça restauradora para perdoar, reconciliar, respeitar, incluir e amar.

 

Com essa leitura, recuperaremos o conceito de um Deus Pai tendo como exemplos a vida e o ministério de Jesus Cristo. Os textos do evangelho revelam claramente um relacionamento filial entre Jesus e o Pai (Mt 11.27; Mc 14.36; Jo 1.14, 3.35, 5.19,36, 6.39,57, 10.24; Rm 8.15; Gl 4.6). De fato,  encarnou as verdadeiras características de um Deus Pai: criador, sustentador, educador, perdoador, acolhedor, cuidador e cheio de afeição e de afetividade. Do mesmo modo em sua essência, tem as virtudes maternais que podem ser extraídas do simbolismo dos textos: Is 43.1-7, 46.3-4, 66.7-14; Os 11.1-11.

 

Nessa visão, não poderíamos deixar escapar três importantes lições bíblicas:

 

1a A extraordinária oração ensinada por Jesus a seus discípulos, a oração do Pai-Nosso (Mt 6.9-15; Lc 11.2-4). Aqui, Jesus abre as portas relacionais sobre o conceito de Deus Pai: um pai que cuida, acolhe individual e coletivamente, mas é Pai que inclui com afetividade todas as pessoas;

2a Ainda no contexto da oração do Pai-Nosso, essa lição traz-nos o cuidado de Jesus: "Qual dentre vós é o pai que, se o filho lhe pedir [pão, lhe dará  uma pedra? Ou se pedir] um peixe, lhe dará em lugar de um peixe uma cobra? Ou, lhe pedir um ovo lhe dará um escorpião? Ora, se vós, que sois maus, sabeis dar boas dádivas aos vossos filhos, quanto mais o Pai celestial dará o Espírito Santo àqueles que lho pedirem" (Lc 11.11-13). São lições extraordinárias de Jesus apresentando o coração amoroso de Deus, que oferece dádivas a seus filhos e filhas. As portas do Pai estão abertas;

3a Trata-se da conhecida parábola do filho pródigo (Lc 15.11-32). Nela, estão as virtudes de um pai que não abandona o filho desviado e o acolhe, perdoa-lhe, reintegra-o na vivência familiar e oferece-lhe dignidade por meio de atos concretos: "porque este meu filho estava morto e reviveu, estava perdido e foi achado. E começaram a regozijar-se” (Lc 15.24).

 

Considerando-se os apontamentos pastorais sobre o tema, temos:

 

• Vivemos em um mundo de rápidas e profundas transformações. A chamada pós-modernidade tem provocado uma vida marcada  por individualismo, competição e consuminsmo. A família, bem como todos os demais agrupamentos sociais, têm sido afetados;

 

• No presente cenário da pós-modernidade, a família sofre grandes transformações na composição e na organização por conta de separações, maternidade solitária, agregação de componentes etc. Os lugares e os papéis das pessoas mudaram. Nessa configuração, a família tem sido geradora de abandono; de falta de presença física de autoridade amorosa, de disciplina, de preparo para a vida. O que vemos são relações egoístas em que há cobrança excessiva de obrigação dos outros sem dar nada em troca. Falta compreensão; falta temor a Deus. O maior desafio para uma partenidade / maternidade é a manutenção dos valores permanentes do evangelho;

 

• A  violência familiar tem sido um ponto da crise de autoridade. Lamentavelmente, a crise da paternidade instala-se em diversos relacionamentos;

 

• Resgatar no ensino bíblico a importância da paternidade responsável constitui um grande desafio para a totalidade da vivência familiar. O fundamento da graça de Deus Pai é o caminho para compreender e viver a graça restauradora do evangelho de Jesus Cristo em termos de perdão, reconciliação, diálogo, respeito, inclusão e amor. Portanto o amor é o afeto em ação. Sem amor, não há paternidade, pois Deus é a fonte de vida e comunhão (Sl 68.5-6).

 

 

 

Adriel de Souza Maia
Editor Nacional do no Cenáculo


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